quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A cicatriz

Sou um homem triste...não! sou um homem sem sentimentos,nem alegre nem triste.Sou solitário,não por falta do companhias femininas, mas por opção de viver enclausurado num mundo tão conhecido e que falta tanto a se conhecer...esse mundo que se ilumina apenas quando algum rastro de cometa tange sua órbita: Eu.Também já vivi muito e, sinceramente, não vejo o porque de viver ilusões sabendo que as mesmas não passam de brisas efêmeras e as ilusões vividas em minha juventude me trouxeram para essa insuportável calma.
Sou um pouco alto e não costumo chamar atenção no que diz respeito à minha aparência a não ser minha testa que sta crescendo por causa da calvice.A única coisa que tenho de diferente é uma queimadura feita por um antigo amigo com um cigarro,que se encontra na parte interior do meu braço direito, mais exatamente entre o bíceps e o tríceps.
Hoje acordei no horário que acordo todos os dias desde que me entendo por vivo.Tomei o café matinal, acendi um dos meus cachimbo com o tabaco irlandes ,que sempre foi minha referência desde que o degustei pela primeira vez, e li meu jornal preferido:Le Monde,assim como faço todos os dias nos últimos anos.
Entre a fumaça do tabaco que fumava e algum trago de Gin, resolvi escrever sobre uma lembrança que me assolou a noite inteira, para ver se ela, finalmente, deixa minha cabeça.
Eu Estava em uma outra cidade bebendo com alguns velhos amigos e pessoas que não conhecia...mas isso não quer dizer que essas duas classificações não possam pertencer à uma única pessoa,mas lembro-me que faltou cigarros e então me dispus a ir compra-los numa tabacaria próxima de onde estávamos.No meio do caminho, numa praça bem arborizada,deparei-me com um homem que fumava cachimbo sentado numa mesa que ele mesmo, posteriormente me contaria, havia construído para ficar ali vendo as pessoas passarem enquanto fumava.
Fiquei surpreso por, naquele lugar onde eu jamais pensaria que vendesse tabaco, encontraria alguém fumando cachimbo.Resolvi ir lá perguntar onde vendia aquele fumo naquela cidade.
O homem tinha o olhar perdido entre os transeuntes, esboçava um sorriso jovial, como quem algum cabelo feminino tivesse trazido de volta alguma lembrança boa. Aproximei-me dele e vi que o tabaco que ele estava fumando também era o meu preferido.
Com licença,falei.Pois não,Queria saber onde tu compraste este tabaco que fumas agora,Ah,sim!dizer-te-ei,mas antes que eu te responda,podes me responder uma pergunta,Perguntou o homem,Balancei a cabeça em sinal de positivo,então ele prosseguiu,Poderias me dizer o que é o amor,A pergunta soou como um terremoto totalmente inesperado sobre minha espinha.Dei de ombros, e ele, cordialmente, pediu para que eu me sentasse.Assim o fiz.Aceita uma dose de Gin,me perguntou enquanto acenava para o garçom de um bar um pouco distante e exclamou, Por favor, uma outra dose.Quando eu já me encontrava sentado, ele repetiu a pergunta,O que é o amor.Tentei explicar ,mas as palavras fugiam de minha boca.Quando consegui articular as palavras,disse que o amor é a ilusão mais aterradora que existe e que é algo que não vale à pena ser vivido.Ele fez uma cara de espanto e perguntou-me se eu já tiha amado alguma vez. Respondi que , quando a paixão estava sendo vivida eu acreditava estar amando, mas que depois de o tempo reduzir a pó todas as carícias, vejo que não, não nunca amei, e , se eu já amei, me arrependo.O homem baixou a cabeça e fez um movimento de reprovação.Isso me irritou.Na verdade, o próprio semblante e o sorriso daquele homem me irritavam.Ele parecia feliz e eu me irritei.No auge da minha irritação, pensei que ele não sabia nada da vida e que tinha que quebrar muito a cara para entender o que eu, com minha experiência, sei.A vida fez muitas desgraças com você e eu sinto muito,Falou essas palavras ainda olhando para baixo.Perguntou, ainda olhando para baixo se eu quereria experimentar um amor de verdade, ainda enfurecido com aquelas perguntas, respondi que não posso viver algo que, de fato, não existe e que é que nem querer tocar nas mãos de um deus que vive na cabeça das pessoas.
Ele levantou a cabeça e pude ver uma lágrima caindo de seu rosto enquanto dizia que eu era um velho estúpido.Não estava mais suportando aquela conversa, ma algo me impedia de sair, como eu sempre faço quando alguém não me agrada.
Eu tenho certeza de que vou encontrar um amor pro resto da minha vida e eu só quero que ela esteja no meu leito de morte para eu saber que ali tem uma mulher que eu amei,amo e talvez irei amar para sempre,Disse ele olhando para mim e deixando cair uma lágrima no copo ainda pela metade de gin.Seu semblante misturava uma alegria desesperada, e uma esperança realcançada, então continuou,Eu já conheci mulheres, mas cada uma das que eu conhecia, não durava muito tempo nossa relação e , a cada vez que um relacionamento meu terminava, via a esperança de encontrar uma mulher ainda melhor, mas sempre carregando o que de positivo ela tinha me deixado.É triste ver que já não tens mais a esperança em teu coração, que agora renegas a sua fragilidade e tentas viver numa paz que angustia qualquer marinheiro.pois eu quero um mar revolto, ondas que me assolam o casco o meu barco e ondas altas que me levem para perto de Deus. Ouvindo tais palavras, fiquei enfurecido e me levantei,mas ele continuou,Ainda vais encontrar teu amor,por que vais lembrar dessa nossa conversa e, assim , uma flor brotará em teu tão velho e tão desiludido coração. Agora podes ir,Concluiu o homem.
Numa mistura de raiva por ter pedido tempo com tão jovem e esperançoso espírito,saí sem olhar para trás, não perguntei sequer sue nome.
Mas algo me chamou a atenção.Quando eu me levantei para sair, ele se abaixou para pegar em sua bolsa algum dinheiro.Nesse momento,meus olhos viram o que eu talvez tenha feito com que eu perdesse o sono essa noite.Mais ou menos entre o bíceps e o tríceps, havia uma marca que parecia ser de queimadura provocada por cigarro.
Esse encontrou me assolou por muitos dias e nunca mais voltei àquela cidade e também nunca mais vi tal homem to espirituoso,queria continuar a descrever tão encontro, mas acredito que não tenho mais tempo,meus amigos estão para chegar, pois hoje é meu aniversário de vinte e um anos.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Aos que deixei.

Hoje, ao contrário de ontem, o mar se tornou revolto no cair da tarde. Sentei-me na proa e o lampião que dança ao sabor das ondas, me ilumina ao escrever essa carta dentro dessa noite sem estrelas. Como todos os dias, penso nos que deixei nas mais diversas ilhas que pude contemplar.
Hoje, inundado pelo brilho dessa centelha oscilante e com uma saudosa alegria, dedico essa carta aos que deixei e levei pedaços, sejam amores, pedras ou lágrimas.

À vocês, que me acolheram e que, como sempre, fiz do anoitecer minha partida silenciosa.

Não pensem que fui ingrato ao partir na calada da noite, mas as despedidas nunca foram minha forma de partir.Não digo adeus porque , talvez, voltemos a nos encontrar em algum amanhecer noturno.
Não, não fuji ou fujo das ilhas mais belas. Não, não tento mudar o mar que navego, o contemplo. Se hoje, vivo envolto em memórias nesse mar de solidão, foi uma escolha minha. Desculpem-me pela pressa de nossas conversas e aquele gosto de despedida que sempre saíram de minha boca.Preciso navegar...e ,nesse mar, não procuro amores eternos ou pedras precisoas, procuro a mim mesmo. Desculpem-me o egoísmo, mas nasci na solidão e nela me vejo num certo equilibrio melancólico.
Mas não encarem essa melancolia como um defeito ou algo prejudicial.Não sou feliz, mas estou longe de ser alguém triste,apenas vivo onde algumas pessoas evitam ter conhecimento: o mar da própria solidão.
Escolhi navegar pela escuridão recolhendo estrelas por onde passo para iluminar minhas noites sem luas e sem estrelas. Fiz uma escolha,assim como fizeram os que escolheram uma ilha qualquer como descanso eterno e nao me arrependo. Nunca conseguiria viver em terra, logo morreria. Prefiro a eternidade dessas ondas que me levam para o encontro com furacões, mas também me dão crepusculos que nenhum de vocês, aí nas ilhas que deixei, poderiam imaginar tamanha beleza. Repito: fiz uma escolha, preferi navegar sozinho até o último dia, deslizando pelos mares mais coloridos à ter que viver em uma ilha que, em alguns meses, a conheceria por completo e ,depois de conhecê-la , sentar-me-ia nas pedras para ver os barcos viajantes cortando o horizonte sob o mesmos crepúsculos, repetidamente, pelo fim da vida curta que a terra provoca (acredito que quem vive em terra pára no tempo e a tão buscada paz se resume a um dia repetido até o fim.No mar, garanto-lhes que sinto a vida batendo contra o casco da nau todos os dias de uma forma diferente. "ma vie est le mére")
Nunca,peço-lhes, pensem que eu esqueci de vocês, só que eu escolhi o infinito e furioso mar à ter que resumir minha vida à um dia repetindo em circulos.

No mais, agradeço os presentes e sorrisos que me deram, os levarei sempre comigo e, um dia , quando o doce naufrágio fizer de meu nome para "saudade", os devolverei...As ondas os levarão de volta pra vocês.

Eu fiz minha escolha.

Obrigado pela cores do amanhecer e as estrelas das noites

De algum lugar dentro de mim,

Balthazar Sete-Sóis

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Memórias da ilha das sete cores

Faz vários dias que o mar está calmo e sol desponta querendo me fazer sorrir, como se seus raios arqueassem meus lábios num sorriso lunar. O vento que soprou trouxe consigo um cheiro que pintou de tormenta o horizonte no amanhecer.
esse cheiro me fez lembrar daquela linda ilha que outrora visitei, mas, por mostrar tantas belezas para meus olhos tão cinzentos, tiveque abandonar.
Nela eu a conheci. Prefiro chamar "ela" porque não interessa, nesse infinito mar, que alguém saiba de quem se trata, já que "ela" representa uma ilha, um sonho, uma saudade sem razão de ser.
Seus montes eram verdes, suas águas cristalinas e o vento soprava calmamente, como seu um deus jogasse seu manto para protegê-la e , penso eu, de fato era o que acontecia..um deus a protegia de todos os males desses mares..talvez até mesmo de mim.
Ancorei na costa leste, onde as pedras eram floridas e a áua transparente. confesso que pensei em nunca mais voltar pro mar e seus mistérios mas , como todo velho marinheiro, hesitei diante de tanta beleza.
Eu sempre me perguntava se aquela ilha existia ou se era mais uma visão como tantas outras que me apareceram nessa vida...nesse barco de tantas velas, de casco contruído com o que sobrou de tudo que já não é.
Resolvi não sair do barco, apenas circulá-la, apreciar sua passagem e as cores dos seus cheiros. Mas como não entrar na ilha? como ir embora sem saber se aquele seria meu último porto? resolvi mergulhar próximo ao barco, onde seria mais seguro. Meu barco é tudo que de mais precioso tenho, apesar e sua cinzenta cor e de suas velas tão tristes. Mergulhei e, dentro daquele lençol vítreo, pude ver os peixes coloridos rodeando aquela ilha como se a protegessem do mar, de mim ou de todos que não viessem para ficar. diante de tantas cores, acreditei mesmo estar sonhando, resolvi olhar para o barco e vi algo inesperado. Aquele barco que sempre me carregou por tantas ilhas, me salvou de tantos furacões, estava sereno. O sol refletia em seu casco e as velas estavam suavemente baixas como se, enfim, tivessem encontrado o descanso merecido por tantas tempestades, me pareceu, pela primeira vez, que aquele barco sedento pelos mares escuros estava em paz e disposto a nunca mais sair.
Peguei uma pedra que o mar , há milênios, tentou dar, empurrando-a com as ondas. Voltei a superfície e fiquei surpreso quando vi que o meu barco se tornara cinza novamente (nunca soube a verdade) . Escutei o rengido do seu timor e suas velas se abriram como as asas de um albatroz e, quando percebi, a ilha já era um pequeno ponto de luz no horizonte escuro...cada vez menor.
Esse cheiro que senti hoje pela manhã me trouxe a isão dessa ilha iluminada e protegida por algum deus que, da mesma forma como a protege das tempestades do mar, protege ela de mim...soprando contra as velas do meu cinzento barco para longe...longe...até onde eu não possa mais ver suas radiações tão confortante. Não sei o que aconteceu de fato, mas penso todos os dias onde é meu lugar, se voltarei um dia e aquele deus me deixará aportar ( juro como desmancharia meu barco e construiria uma linda casinha branca no alto do mais lindo monte com suas madeiras tão cheias de mim) ou se meu destino é sempre vagar sem nunca encontrar um porto onde eu possa descansar em paz. Desculpem-me, mas esqueci de dizer que meu barco é grande demais para aportar...talvez meu destino seja navegar por mares profundos até que um dia um furacão tenha piedade de mim e me leve para junto dos meus amigos afogados.Só eles sabem como é a vida de um marinheiro onda a saudade é o timoneiro.
No mais, levo aquela pera que seria o rpesente do mar comigo. Quem sabe o mar, insatisfeito com o roubo do seu presente, leve meu barco de volta. Se não, essa pedra sempre vai me lembrar, com suas, cores aquela felicidade que nunca existiu e eu sentirei saudades, mas também saberei que um dia, vi o que seria a paz de alguém que vaga e meu barco solitário barco refletiria como um diamante, as sete cores da paz.

domingo, 14 de setembro de 2008

Carta ao mar II

Para T.B



Hoje a manhã se levantou cinzenta e o vento leste soprava suavemente a vela. como de costume, me sentei na proa do barco para procurar, no horizonte, algo que me guie ...faz três meses que não avisto ninguém -nem ilhas nem barcos perdidos- nesse mar infinito.Mas a manhã estava mais cinzenta do que o normal. há tempos que não acordava com essa náusea,como se algo me puxasse para dentro de mim cada vez que eu respirasse. Sei que foi o sonho que tive ontem, por isso que escrevo mais uma carta para jogar ao mar, na tentativa que ela carregue também essa angustia que a lua pinta com as cores da saudade.
Para aquela que me visita todos os dias, mas que nunca vi, que aparece semrpe tão linda nos meus sonhos de quem foi e nunca voltou. Mais uma vez, te vi em meus sonhos.
Estávamos num lugar que eu conheço, não sei se conheço por vida ou se o vejo dentre os meus desejos. O crepúsculo já puxava o véu da noite por entre as montanhas, e um homem que carregava os séculos na cabeça - grande amigo de outrora, quando eu ainda vivia em terra, mas que ,também, nunca vi- nos apresentava mais uma vez dentre as mil que te vi e que te verei...Lembro-me que bebíamos vinho ao som de violinos alegres.Estavas sentada de frente para mim com suas pernas em forma de "x" e com o cabelo levemente caído sobre os ombros, deixando uma sobrancelha escondida pelos cabelos de cor de paixão que tinhas .Rias e , de quando em vez, teus olhos procuravam, timidamente, os meus que te envolviam como o calor daquela noite de outono.Levantaste a cabeça, minha querida, e perguntaste se eu a tinha te visto passear pelo campo durante a manhã que o sol pintava teus cabelos com o vento.Respondi que sim, como pudera eu não procurar-te com meus olhos? Então, envolvida naquela alegria infantil, abrisse um sorriso ,ajeitando o cabelo que já caiam nos teus pequenos olhos denovo, que jamais pensei ver, seguido do meu sorriso que jamais pensei poder dar. Mas o sonhos acabou e voltei para o vento frio desse mar.
Então, minha querida, escrevo-te essa carta.A deixarei aqui ,nessa garrafa, envolvida pelas ondas...Talvez nunca te veja, talvez nem vives de verdade, ou, se vive, está nesse jardim que visitei em sonhos, longe desse mar solitário...longe desse barco, dessas ondas e dessa saudade. Mas, se vives e também navegas por aqui, guia teu barco para aquela lua, já que, estranhamente, ela esboça um sorriso todas as noites. Um sorriso que vi em tua boca.
Estarei, como estarás, embaixo dessa lua que ri...procurando os mesmos sorrisos esquecidos mas tão desejados.

Com a ansiedade fria do amanhecer,

Balthazar Sete-sóis

domingo, 7 de setembro de 2008

Carta ao mar I

Não sei pra quem escrevo essa carta que repousará dentre as ondas que me trouxeram para esse lugar sem nome.Não sei se alguém aflito a encontrará, ou se, simplesmente, será esquecida nas pedras de uma ilha de ninuém.Na verdade, escrevo para deixar no mar dos desconhecidos, o testemunho de um coração que bate no horizonte, talvez longe demais de ti, mas vive.
Tú que a encontraste, não levarás consigo nenhuma mensagem de amor ou ódio, verás somente o que alguém chamou de saudade, mas que hoje navega no esquecimento.Sem rumos ou bandeiras, nessas ondas que o vento atiça, um barco já deslizou em busca de um raio de sol ou uma estrela que despencara do céu, mas que talvez nunca tenha sido vivo..um barco de brisa branca e serena pela noite gélida dos que vão.
Sem vida, vagando pela solidão das milhares de luzes no horizonte, sejam luzes de outras naus à deriva ou sejam as ilusões de terra ao horizonte, mas vagando em busca do que já se passou, ou das saudades que ainda virão.
Á ti, que estais descobrindo os sonhos que as letras desenharam. Á ti, que a solidão já bateu na porta pedindo para entrar, peço-te que a deixe entrar enquanto há vida nos teus ares, pois quando se navega nesse mar de nostalgia, nem a própria solidão está ao lado para chorarmos em seu ombro quando um crepúsculo se anuncia, trazendo ,consigo, os cheiros da casa que um dia deixamos para correr atrás daquela estrela que morreu...

Aceitai a solidão que pinta os luares e perfuma o que passou e nunca deixe que te ceguem as estrelas do infinito.Um dia, as estrelas se apagarão e não te restará nem mesmo a solidão nesses mares desertos, sem a lua que desenha com lápis de luz no mar, sem a fronteira do que é e o que já passou.