domingo, 14 de setembro de 2008

Carta ao mar II

Para T.B



Hoje a manhã se levantou cinzenta e o vento leste soprava suavemente a vela. como de costume, me sentei na proa do barco para procurar, no horizonte, algo que me guie ...faz três meses que não avisto ninguém -nem ilhas nem barcos perdidos- nesse mar infinito.Mas a manhã estava mais cinzenta do que o normal. há tempos que não acordava com essa náusea,como se algo me puxasse para dentro de mim cada vez que eu respirasse. Sei que foi o sonho que tive ontem, por isso que escrevo mais uma carta para jogar ao mar, na tentativa que ela carregue também essa angustia que a lua pinta com as cores da saudade.
Para aquela que me visita todos os dias, mas que nunca vi, que aparece semrpe tão linda nos meus sonhos de quem foi e nunca voltou. Mais uma vez, te vi em meus sonhos.
Estávamos num lugar que eu conheço, não sei se conheço por vida ou se o vejo dentre os meus desejos. O crepúsculo já puxava o véu da noite por entre as montanhas, e um homem que carregava os séculos na cabeça - grande amigo de outrora, quando eu ainda vivia em terra, mas que ,também, nunca vi- nos apresentava mais uma vez dentre as mil que te vi e que te verei...Lembro-me que bebíamos vinho ao som de violinos alegres.Estavas sentada de frente para mim com suas pernas em forma de "x" e com o cabelo levemente caído sobre os ombros, deixando uma sobrancelha escondida pelos cabelos de cor de paixão que tinhas .Rias e , de quando em vez, teus olhos procuravam, timidamente, os meus que te envolviam como o calor daquela noite de outono.Levantaste a cabeça, minha querida, e perguntaste se eu a tinha te visto passear pelo campo durante a manhã que o sol pintava teus cabelos com o vento.Respondi que sim, como pudera eu não procurar-te com meus olhos? Então, envolvida naquela alegria infantil, abrisse um sorriso ,ajeitando o cabelo que já caiam nos teus pequenos olhos denovo, que jamais pensei ver, seguido do meu sorriso que jamais pensei poder dar. Mas o sonhos acabou e voltei para o vento frio desse mar.
Então, minha querida, escrevo-te essa carta.A deixarei aqui ,nessa garrafa, envolvida pelas ondas...Talvez nunca te veja, talvez nem vives de verdade, ou, se vive, está nesse jardim que visitei em sonhos, longe desse mar solitário...longe desse barco, dessas ondas e dessa saudade. Mas, se vives e também navegas por aqui, guia teu barco para aquela lua, já que, estranhamente, ela esboça um sorriso todas as noites. Um sorriso que vi em tua boca.
Estarei, como estarás, embaixo dessa lua que ri...procurando os mesmos sorrisos esquecidos mas tão desejados.

Com a ansiedade fria do amanhecer,

Balthazar Sete-sóis

4 comentários:

Filipe Pardal disse...

Caramba...
pobre homem das duas vidas.

lcss disse...

"o fato de o mar estar calmo na superfície não significa que alguma coisa não está acontecendo nas profundezas."

Anônimo disse...

lindo.

barbara

Wdilson Shelldon disse...

massa emídio, beba mais um pouco porque merecem ser jogadas mais algumas garrafas com cartas ao mar.