confesso que fazia tempo que alguém entrava no meu barco com tanto peso do passado e tanta leveza do vazio. Ela se anuciou, a chamei para subir e na proa nos sentamos. Fazia um luar nostalgico e as ondas que ela trouxem moveram o barco para cima e para baixo.Lembro-me do seu rosto que pintei com a luz da lua.
Ela me deu alguns de seus tesouros enquanto o silêncio tomava conta dos sete mares (sim, nesse momento, todos os mares se acalmaram) eu os recebi como presente de mares longíquos.eu não precisava, e quando recebemos um presente inseperado é como se nos dessem um motivo para sentir saudades, para dizer que nossos ouros e pedras preciosas são apenas brilhos numa noite clara, que o que realmente são tesouros, são essas miudezas que nos fazem fechar os olhos e percorrer os sete mares procurando alguém que talvez nem exista mais. "Ela existe?" foi a primeira pergunta que me surgiu enquanto olhávamos ,por cinquenta minutos de silêncio, o horizonte escuro e oscilante.
Então ela se foi, fantasmagoricamente, antes do nascer do sol.Até hoje não sei se ela veio ao meu barco por piedade, por aviso ou por uma carícia do destino para um marinheiro tão cansado.Não sei se ela era uma ilha perdida,não sei se eu era um barco ancorado nesse fim-de-mundo, só sei que ela levou consigo alguns segredos de minha força contra a dor, que ela seja feliz com meu presente.
continuo vagando nessa noite densa e mais densa por causa desses presentes saudosistas. nunca mais a vi desde essa noite, mas também não a procuro, sei que um dia, numa ilha cheia de flores, usará algum dos presentes que levou de mim...Talvez olhe para o horizonte procurando um galeão maltratado,talvez olhe para o chão cheio de pedras ou para o seu amor, mas, que um dia, ela use os olhos que levou de mim.
Porque tudo é passageiro como uma vírgula, uma vela, uma lágrima...
domingo, 23 de novembro de 2008
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