quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A estrela que voltou pro céu.

E é sempre muito difícil compreender esse aperto,querida. Esse aperto que trás consigo a certeza de que tudo passa.
ah, como eram lindas e vivas as estrelas e como me sorria o luar. Como meu coração acelerava quando eu sentia que estavas vindo, que cada segundo era um a amenos pr'Eu te encontrar. Via as cores das flores distantes e até sorria para as pedras para que elas se sentissem amadas...
Agora fostes embora e deixou a noite tão escura e longa. As estrelas que eram tão brilhantes, agora me parecem tão tímidas e distantes, e te vejo lá, sempre linda e brilhante, mas muito distante dos meus braços que são tão teus (já não tenho mais meus abraços). As flores me parecem pálidas e mortas e o luar se escondeu atrás das nuvens também cinzas.
Fostes e és, para mim, uma linda estrela que desceu aqui na proa do meu barco, mas que o céu te chamou de volta. Só peço que me ilumines, de alguma forma, nunca dependi do teu brilho, mas agora não conseguirei mais viver se não estiveres aí no céu...mesmo que por trás das nuvens.
Me resta agora te guardar aqui,dentro de mim, e imaginar o que estais fazendo agora, se dormes bem ou se tens medo do escuro do teu quarto que nem conheço.
Estais aqui, nesse corpo sem braços nem abraços, num lugar que sei que, por mais que o tempo e a distancia digam que não, ainda estamos abraçados...
E se eu sorria para as pedras enquanto te esperava, hoje suplico para alguém sorrir para alguém que, depois de uma noite linda e de ouvir um triste adeus, virou pedra também.

...e sinto um aperto.Um aperto de quem teve o coração levado embora ou dado para quem não volta mais...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

pérolas ao luar

...nessas últimas noites de silencio e distancia, me deparei com uma ilha ao longe.Não tinha luzes, mas a luz do luar trouxe suas cores até mim como pétalas de luz espalhadas em cima de uma mesa.Achei familiar aquele concerto de luzes e resolvi me aproximar ,ou por encanto ou por estar navegando em círculos e apenas seguir a rota da minha vida.

Havia um cais lindo, como quase não existe e uma moça que andava pela praia sozinha, mas sorridente (e por que mão falar que até seu sorriso brilhava como pérolas?). Tive um susto, como poderia estar ali aquela que foi, é e sempre será minha estrelinha do norte?! não hesitei e pulei ao mar. Ah como foi glorioso aquele abraço cheio de descobrimento e saudade! Ah, como foi claro aquele silêncio que nos rodeava enquanto nos abraçávamos!

Ali mesmo, onde a lua podia nos ver, nos sentamos. Sequer procuramos um outro lugar mais confortável.P or alguma razão que não conheço, meus braços já não eram mais meus e agora , a própria lua não via mais dois seres separados. Falei dos mares que percorri nesses dias tão eternos e me esqueci até de que eu era alguém sempre a vagar. "por que não páras relógio?não me faças padecer,ela irá para sempre,logo o sol vai nascer" Como foram eternos aqueles abraços e aqueles risos (já tinha até mesmo esquecido de como era sorrir).

Ela estava cansada, então resolvi ir para o meu barco e esperar para que, quando ela descansasse, eu pudesse, então, continuar aquilo que foi eterno.Deixei uma pulseira.Sem motivos, apenas por saber que eu iria voltar para buscá-la.

E, tendo um final como essa noite, quando acordei o sol já despontara e a ilha já não mais lá estava.Meu barco se soltara do cais sem eu notar e agora estou aqui mais uma vez à deriva, nessa noite fria e sem estrelas, sem minha pulseira e sem ela, ainda me perguntando se foi real ou se só foi um sonho/dádiva do meu destino para que eu volte a me lembrar que existe aqui um coração entre os sonhos e essas botas gastas e molhadas.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

então, fez-se luz.

Hoje fez sol durante as primeiras horas do dia. Para mim foi tudo de uma delicada estranheza:as cores, o vento, tudo parecia brilhante , mas meus olhos, acostumados com a fria noite (moi qui vivais la nuit, moi que dormais le jour) demoraram para abrir. Me esforçei para enxergar algo que valesse à pena, mas minhas mão, em movimento de defesa, combriam meus olhos e meu coração estava acelerado e desconcertado.
Voltei para dentro do barco para tentar pegar as cartas molhadas de lágrimas para secá-las naquela luz tão cortante. Voltei, até com um pouco de sorriso no rosto quase petrificado, e joguei as cartas para cima.Nesse momento, uma nuvem cobriu o sol e os ventos pararam.Nenhuma carta caiu do barco nem secou ao sol do renascer...mais uma vez eu estava na escuridão,rodeado de saudade.

domingo, 23 de novembro de 2008

Onde, Languidamente, Gitou-se um Adeus

confesso que fazia tempo que alguém entrava no meu barco com tanto peso do passado e tanta leveza do vazio. Ela se anuciou, a chamei para subir e na proa nos sentamos. Fazia um luar nostalgico e as ondas que ela trouxem moveram o barco para cima e para baixo.Lembro-me do seu rosto que pintei com a luz da lua.
Ela me deu alguns de seus tesouros enquanto o silêncio tomava conta dos sete mares (sim, nesse momento, todos os mares se acalmaram) eu os recebi como presente de mares longíquos.eu não precisava, e quando recebemos um presente inseperado é como se nos dessem um motivo para sentir saudades, para dizer que nossos ouros e pedras preciosas são apenas brilhos numa noite clara, que o que realmente são tesouros, são essas miudezas que nos fazem fechar os olhos e percorrer os sete mares procurando alguém que talvez nem exista mais. "Ela existe?" foi a primeira pergunta que me surgiu enquanto olhávamos ,por cinquenta minutos de silêncio, o horizonte escuro e oscilante.
Então ela se foi, fantasmagoricamente, antes do nascer do sol.Até hoje não sei se ela veio ao meu barco por piedade, por aviso ou por uma carícia do destino para um marinheiro tão cansado.Não sei se ela era uma ilha perdida,não sei se eu era um barco ancorado nesse fim-de-mundo, só sei que ela levou consigo alguns segredos de minha força contra a dor, que ela seja feliz com meu presente.

continuo vagando nessa noite densa e mais densa por causa desses presentes saudosistas. nunca mais a vi desde essa noite, mas também não a procuro, sei que um dia, numa ilha cheia de flores, usará algum dos presentes que levou de mim...Talvez olhe para o horizonte procurando um galeão maltratado,talvez olhe para o chão cheio de pedras ou para o seu amor, mas, que um dia, ela use os olhos que levou de mim.

Porque tudo é passageiro como uma vírgula, uma vela, uma lágrima...

sábado, 22 de novembro de 2008

Ontem, Longe, Gerou-se Afeto.

...então esse vento que também já me trouxe muita solidão e nostalgia, acaricia teu cabelo. a lua que antes era tão minha, ilumina teu rosto que chega em tua embarcação, que encosta na minha. Lesse alguma carta minha jogada ao mar? estais, como eu, à deriva nessa vida marítma?ou estais próxima da tua ilha a acalentar os marinheiros solitários como eu que cruzam todos os dias teus mares e teus faróis?
Vejo, de longe, alguém que te espera no alto daquela colina e me pergunto se está esperando que voltes ou te dizendo adeus.
Vamos, pode subir, no meu barco não existe canhões e, as formas que lembram os mesmo, vomitam flores e insensos para todos aqueles que precisam de alguém do lado quando a lua desponta tão branca no céu.
Não fale nada! me deixa saber quem és só pelo brilho que a lua reflete no teu olhar. Estais aqui, talvez não tão longe de tua casa,talvez não tão longe de um amor que ficou na praia, mas estais só como eu?
Ne temas meu barco, ele acabou de vencer oito galeões que só me atacavam enquanto eu dormia...ele já não é o mesmo...
Está um pouco gasto, mas, no que nele achares, podes ficar pra ti. Pelo sopro do destino, estarei só de passagem pelas margens da tua praia, por isso, peço que leve tudo o que for te ajudar, seja um retrato de alguém que nunca conhecestes ou todo meu ouro, mas leve tudo.
Viagei por muito tempo, moça dos ventos, para chegar até aqui. Batalhei ,sem canhões, contra cem canhões, vencendo ,por fim, pelo simples motivo de não lutar.
tu te apresentas com teu barco tão florido e tão limpo (chego a sentir vergonha do meu pobre galeão que mais parece o holandês voador), teu sorrio me vem sem cheiro e sem som, qual uma fotografia preto e branco, uma estrela que brilha e morre todas as noites para iluminar tantos outros universos.
Mas essa noite tão clara não me trará saudade, senta-te do meu lado nessa proa que nos joga pro horizonte e me conta o que posso dar-te para que sejas feliz, para que nunca sintas falta do que me foi tão precioso...

(sabes quando o frio percorre teu corpo, mas só é necessário uma mão segurando a tua para que te sintas aquecida?)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

um abraço em milhas de eternidade

Para minha pequenina estrelinha do norte

...e confesso que naquela noite que a vi e não sabia que mais a veria, pensei em tomá-la em meus braços, saber de seus amores morto-vivos, seus sonhos e suas tristezas, mas apenas brinquei com o formato engraçado do seu nariz e a deixei partir já que eu não poderia ficar.
A vida continuou e , agora, depois de um ano, "eu falo" e ela me "escuta"(estão em aspas porque, embora sejam escritas, não possuem som algum), distante, lá onde o mar tem um cheiro diferente e a chuva nunca me traria a nostalgia.
Hoje, talvez eu a tenha de uma forma mais pura, como as nuvens que trazem as noticias do norte, mas ainda sinto vontade de cuidar dela, de fechar seus olhos para que sinta eu a abraçando eternamente e, terminando a eternidade desse abraço que ela tanto precisa, sinta um beijo na testa com um afago nos cabelos desajeitado e molhado por lágrimas, arrumando-os por trás da orelha, para que quando o sol nascer, seja hora dela refletir seus raios em seus cabelos tão sonhadores...

...que um dia encontres alguém que tenha asas e te leve para o paraíso onde apenas apontei o caminho entre as estrelas...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

infinita distância à centimetros

...como havíamos nos prometido, estamos na mesma mesma hoje a conversar sobre o amor. Casais trocam carícias e outros solitários procuram bocas para ajudar a passar essa noite fria.
Estsias,como sempre, vestindo preto,e, por sinal, aquele vestido que eu adorava quando usavas. Adorava até mais que te ver nua, posando para mais uma tentativa minha de te manter imortal para os outros.
Te inclinas para frente, sinto teu cheiro e chego até próximo de ti o suficiente para lembrar do calor do teu beijo. Bem de perto, teus cabelos se desenham como ondas do mar...Ah, como me lembro daquela vez na praia, onde éramos, tú e eu, únicos no mundo.Como me lembro das estrelas que te dei, daquele tempo que parava quando minha mãos tocavam teus ombros enquanto estavas perdida no horizonte.
Então me falas de tudo que é novo pra ti, teus novos amores e teu novo futuro mas, quando falas em futuro, nesse momento, me lembro daquela nossa velhice juntos,nosso filhos já grandes e nossa casinha branca na serra como inventamos.
Não consigo prestar atenção quando falas de coisas do teu dia e, quando presto, é pra me imaginar no lugar desse outro amor que teus olhos brilham quando é o nome dele que se pronuncia nessa boca que tanto foi minha.
no meus desespero, rexo para que a única distância entre nós fosse esse espaço onde estão colocadas uma dose de gin e uma cerveja ,já pela metade, de alguma marca holandesa.
Me falas, falas e falas. Enquanto isso, envolto em imaginação, que estamos juntos. Coloco palavras e finjo que quando pegas o cigarro na outra mesa, estais pegando um pra mim enquanto planejamos o que será do dia de amanhã (filhos, casa, viagens).
e, por fim, nesses dois minutos de conversa enquanto me falas do que é e que sonho com o que poderia ser, me perco em nosso futuro, nesse futuro só meu mas que és personagem principal de , nós ,se apagando aquela eterna chama, cuidando de nós mesmos,velhos, esperando a morte...e quanto isso ainda me resta esperanças que a morte, por fim, poderá nos unir denovo?

...e, por um segundo, mudas minha existência, voltando a me fazer aquele adolescente que roubava rosas do jardim daquela velha víúva para te dar...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

insônia,solidão e saudade

...Então a madrugada está azul lá fora e o sono não quer te abraçar. Oh,céus!esta é a hora de fazer das lemranças nossa única companheira. O telefone não vai tocar, irás pensar em alguém que já se foi, mas essa pessoa agora dorme e se sonha, talvez seja com outro amor.
Pela janela as sombras te chamam a atenção. São garras, fantasmas e até teu super-herói, desses que não acreditamos quando temos "companhia" e se torna o salvador nessa noite de insônia.
Os pensamentos correm à mil enquanto nãoo se passaram nem um segundo sequer. Olhas pro telefone, pega-o e lê as mensagens que te mandaram outrora qua talvez tenhas lido rapidamente e indiferente, mas agora é a certeza que não estais só. Agora já se passaram três segundos dessa eternidade branca, é hora de acender a luz e ler aquelas cartas de amor. oh, masoquismo ínsone, que nessa madrugada nos faz sentir a dor para nos fazer sentir que a vida correu.
pensa , reflita, nada mudará esse presente,só resta teus pensamentos e tuas lembranças. Essa madrugada agora é eterna e estais só. Sejai "bem-vindo" (com toda permissão para uma sutil irônia)
Agora veja a saudade que olha pela janela para o horizonte negro, a solidão que se sentou agora naquela escrivaninha onde escrevestes aquelas cartas para aquele amor distante. Não desprezes nenhuma das duas, pois elas sim serão tuas companhias em todas essas madrugadas eternas.
Se conheceres a tua saudade e a tua solidão, enfim, conhecerás o que é a tua vida.

domingo, 9 de novembro de 2008

Sombra sem nome

...E, se existires, sabes o quanto te procurei pelas madrugadas azuis , sem te econtrar jamais, me contentando com uma dose a mais ou com os perfumes de mulheres que me abandonaram. Sabes que tentei te enxergar em cada amanhecer, em cada pétala de rosa e até na própria degradação daquele ébrio que se despedaça. Algumas vezes senti tua presença, mas o medo sempre me guiava para outros caminhos. "you can't change your destiny"...
Sabes como a tua ausência me dói sem nem mesmo te conhecer, mais ainda nessas noites que o violino fala de amor e a lua se esconde. Ah, como perguntei onde estais para essa lua, para esse sol...quantas vezes mandei cartas pelos teus pombos mas, como sempre, fiquei a esperar terminando por dormir ao frio, procurando um ponto crescente no horizonte que me trouxesse de volta a esperança que dobrei e joguei ao vento.
Como é dificil ouvir 'la vie en rose" e não lembrar que também as rosas morrem. O quão é insuportável sentir falta de algo que nunca tive. Escravo de uma imaginação de flor mas que me abraça tão secamente.Me perdoas?
Me perdoas por eu sempre voltar para casa aos pedaços?Me perdoas por , sem conseguir te encontrar, suicidar-me mil vezes por dia?
Que um dia eu possa te encontrar, já que eu nunca fiz por merecer que o destino te colocasse em meus braços...Que, enfim, eu possa chorar e ter alguém para me consolar.

não precisarei mais desses sete sóis se eu tiver, numa noite escura de verão, o minúsculo brilho do teu olhar.

...O tempo, enfim, parará e só haverá tua piedade e minha redenção...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

ùltima aurora de sonhos

Pois um dia sei que dormirei para não mais acordar,sozinho, como todos os que amam.Uma lua depontará no céu me procurando, seu amante fiel e sonhador...em vão . Talvez, alguém, debaixo dessa lua que não saberei mais sua cor, tocará num triste violino as cores de um pintor que os pincéis,a partir de hoje, repousarão eternamente esquecidos dentro de uma garrafa vazia de vinho.Talvez,nessa noite, algum casal de namorados sentirá uma brisa estranha que os abraçará (Quiçá conseguirei, por fim e em forma de brisa, sentir o amor que tanto procurei). Algum ébrio, sentirá sua mão erguer-se num convite à um último brinde.O vento no cais trará os viajantes para o reencontro com suas amadas que choraram tanto o que se foi e que desconfiaram nunca mais voltar(acho que, também, nesse instante, sentirei o doce sabor de ter alguém pra quem voltar)não terei, nessa hora, pedidos ou desejos, irei nas janelas de meus eternos companheiros para os dizer e agradecer aquelas noites; farei, para meus antigos e já despedidos amores, aquela nobre reverência enquanto planto uma flor em cada um de seus jardins.Até que, por fim, caminhanarei por aquela rua deserta e escura.Mas, por favor, não chorem minha morte. Estarei num lugar de paz e, meu espírito tão sofrido e sonhador descansará.lembrais que quando ,até que enfim, dobrar aquela esquina que já me viu tantas vezes dançar sozinho com uma garrafa de vinho, e eu começar a me chamar "saudade", irei para algum lugar dessas madrugadas que virão, nos luares, nos jardins...em todos os lugares em que estiver o amor...é só me procurar numa flor,num abraços...na luz pálida do luar.
E uma tímida explosão de luz em sete cores se fará no céu,nessa noite de despedia, devolvendo,assim, eternizandas no céu, as cores dos sonhos que vocês pintaram pra mim...

até sempre.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Tú em meus cinco minutos

..."Toi, par tes mille et un attraitsJe ne sais jamais qui tu esTu changes si souvent de visage et d'aspect..."
E são esses cinco minutos com a cabeça que, no travesseiro, sonha em sonhar("ich bin die Stimme aus dem Kissen") que me apareçes, não sei onde nem quando, mas apareçes. Lembro de como éramos , há 3 anos, meros desconhecidos, procurando o que sempre procuramos e procuraremos. Penso até nas vezes que passaste em minha frente e eu, com meu olhar sempre no horizonte, não imaginaria que naqueles febris passos se escondia o amor de minha vida que veio, delicada e irônica, dar a razão a minha vida.
Agora és mminha querida alma a vagar no mundo dessa miha saudade...Ah, teus cabelos que o vento desenhava e que pareciam fugir dos meus dedos enquanto tentava de acariciar. E quando, no meio da noite, sem sono,olhando para ti, distante em teus sonhos, inventava algum barulho só para acordares pr"eu ter certeza que eras tú que sonhavas com teus pés ,deixados por uma mistura de medo e desprezo, enroscados aos meus.
Agora já não é mais um capricho ,essa maturidade forçada pelo tempo, é preciso "enfrentar a insônia como gente grande" ,ouvi dizer. mas como me livrar dessa insônia que me invade nesses cinco minutos antes de adormecer? e como despistar meus sonhos que te procuram no dia que desponta e morre?
ah, esses cinco minutos que param meu presente e me jogam nesse passado intacto e pulsante!
enfim, acho que te tenho pra mim, nesses cinco minutos, em um campo florido onde nossas crianças que outrora criamos (ou que, sozinho, criei).
Enfim, te tenho aqui, para sempre, nesses cinco minutos de piedade, onde, te trago para esse barco e essa lua, mesmo sabendo que estais a sonhar com o campo e com as árvores.

(egoísmo onírico)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A flor e a nuvem

Para minha pequena jeanne

Que também seja bendito e malogrado o fato de não sermos iguais.
Por um acaso, já viste duas estrelas iguais?
Esteve, em algum lugar, escrto que seremos a partir do dia que choramos pela primeira vez,no parto. uns gritam, outros choram e outros nascem calados.Estranho,não?
Agora, nesse momento, penso em nós: como os ventos sopram diferente para nós.
nasceste para seres uma flor que sempre encanta e dá alegria num simples olhar de algum maldito ou apaixonado (ou a união dos últimos dois adjetivos).
Por minha vez, sou nuvem que, quando tímido, talvez encante, rubro, um pôr-do-sol. Quando furioso, mas cheio de vida, assusto os marinheiros e as pesoas na praia se recolhem com medo de minha cinzenta aparência.
Por fim, nasceste para seres regada com amor e gostas tristes da nuvens que choram. Eu, em minha vez, nasci para vagar e morrer todos os dias para que continues viva e bela, para alegrar os corações de quem ama.

sábado, 25 de outubro de 2008

Aquele sax e aquela lua

...Ah, e como o som daquele sax me trouxe teu cheiro. envolto nas nuvens azuis da madrugada,meus pensamentos deixaram minh'alma solitária e correram à te procurar.Estais distante, tão distante que o próprio pensamento se perde entra as esquinas e tropeçam nos ébrios, acabando por ter que te reinventar para , só assim, te ter.
Qual é a cor do muro de tua nova casa?quais os teus primeiros pensamentos quando o sol desponta? não sei vai ser sempre a resposta para alguém que ama o que já foi e vive de ilusões criadas pela madrugada e seus sóis (isso! de uns tempos para cá, minhas madrugadas são mais claras que o alvorecer para quem ama.)
Nesse instante, sinto a noite secular. Me aproveito para te criar entre meus universos oníricos.
Ah, será que um dia ainda te lembras de mim? lembra de nossas gargalhadas hoje mudas pela tua ausência? e quantos hão de te oferecer as estrelas e o amor que já te dei?
mais uma vez, o "não sei" envolve minhas mão enquanto escrevo essas palavras para ninguém.
Mas, se um dia, meu olhar percorrer mais uma vez nosso passado tão presente e, nele, trouxer o espirito dos amantes que já não somos, tentarei te apagar (como todos os sons de sax) pensando que "tinha que ser assim" , frágil justificativa para o fracasso. Mas, te peço só uma coisa: nunca deixes que outras estrelas apaguem meu nome que escrevi na lua que foi, é e sempre será tua...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

àquela que dorme enquanto sonho

...então foi dito: tudo passa. Andando pelas ruas laranjas de uma madrugada solitária, sinto essa frase percorrer meus ossos. Onde está aquele grande amor? aqueles sonhos e fantasias que criei ao som de uma sonata que falava do luar?
Meus passos sucedem como quem adia uma queda que virá, ao som de uma música que jamais sonhei. Penso em ti (jamais mentirei) e até sinto saudades daqueles campos onde imaginei sentados, tú e eu, mas que jamais soubeste. Agora meu cigarro se assemelha com minha vida: acabando-se a cada minuto e restando apenas as cinzas.
Mas, nessa cambaleante fuga, me vejo, não evitando cair, mas procurando, com esses braços que foram teus, um abrigo para o frio que me assola.
Onde estais?será que sonhas enquanto penso em ti com os olhos no horizonte?Não sei. Talvez até mesmo aquela magia que ficou do calor de um abraço tenha se evanescido com a distancia. Mas sinto-te perto de mim, insanamente pensando, se perdendo dentro dos meus braços e pedindo para afastar os monstros que te perturbam em teus sonhos (tão longe dos meus).
Enfim, dentro dessa realidade sem futuro e sem passado, vejo-te como o único vento que oscilará minhas tímidas velas à procura de...talvez nem eu saiba, mas me convidas para um mar onde, se não aceitar, me perderei nos enlaçes do "e se..."


Que, embora durmas agora, meus braços te levem o calor dessas madrugadas frias que vivi a pensar em ti, nesse meu velho vício de procurar em outros braços os teus abraços...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

canção do vento na proa

...Por favor, não penses que a liberdade é algo tão glorioso ao ponto de se tornar o sentido de tua vida.Me perguntas, então, o que vem a ser a liberdade para mim.
Respondo-te que a liberdade é a carona nos ventos, os espelhos nos raios solares e as cores d'um por-do-sol. É teres o controle do leme, a direção das velas e o mar inteiro para percorrer.Achas atrativo, querias viver assim pelo mar à deriva, "em cada porto um amor"?
Deixa-me te falar sobre uma noite nessa tal "liberdade"...
Estarás debaixo de um céu estrelado que , lembrarás, já deste essas estrelas n'algum amor do passado passado; a maresia acariciará teus cabelos como algum amante outrora o fez e o vento soprará na proa do barco de carregando, cheio de saudades, para o cheiro daquela canção e do perfume daquelas rosas daquela pracinha tímida, mas que se transformava num império quando tuas mão estavam entrelaçadas com a do grande amor que ficou pra trás quando escolheste, ironia, a liberdade.
Não te iludas com o soneto da liberdade que as sereias proclamam, senão, quando estiveres no mar alto, verás que já não tens mais pra quem voltar - os amores ficaram na práia,inundados de lágrima vendo teu barco egoísta partir - e já não tens mais planos de futuro (desses que só o amor constroi) tens apenas o vazio...tens a imensidão do mar pra ti, mas não terás, nunca mais, para quem contar...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Entre candelabros e luares.

..isso mesmo, porque todas as estrelas estão se apagando e o que foi já não mais o é.
Aquele tango que esculpia em sons um amor cambaleante na rua é apenas uma breve repetição do que, nem no antigo presente, era real.
Eis a grande questão da vida: parece que não vivemos no real.Olhamos para o futuro inexistente pensando no passado que já não volta, e se volta, nossa mente errônea trás com compaixão e com permitida deturpação, os beijos e abraços agora afogados nesse mar de nostalgia.
continuo procurando saber os motivos, razões e circunstância que me fazem me trancafiar num porão escuro de uma nau perdida, entre o candelabro e o luar, para escrever tais coisas em vez de estar olhando a lua que roubou tantaluz do sol para iluminar almas como a minha. Não sei, mas acredito que seja para burlar um pouco essa malha do tempo que me prende, me rodopia e me atira nos braços das lembranças luminosas e perseguidoras. Sou fantoche dessa rede.
No mais, continuarei aqui no porão, hoje a noite está nostalgica demais para alguém que só quer ver o tempo passar por entre os dedos...

- Sentes saudades enquanto durmo?

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

memorial da madrugada

E é de tudo isso que sinto falta,
Desse piano que toca a sonata das minhas madrugadas
Desses poemas que escrevo no breu do meu mundo,
Desses sonhos que abro os olhos para vive-los

Isso me faz falta,
Da mulher que persigo em nuvens brancas,
Das águas azuis do amanhecer
Daqueles pássaros que cantam enquanto durmo

Sinto falta desses amigos,
Dessa mulher que me abraça,
Daquele ébrio que cambaleia perdido na felicidade,
Das perdidas colhendo migalhas de amor pelas esquinas.

Grande falta me faz
Desse sentido da vida,
Dessas lágrimas que rolam e queimam
Dessa boca que me faz voar.

Sinto essa falta de dormir,
Daquele sol que queima meu rosto risonho,
Sinto falta dessa alegria de viver
E dessa juventude sonhadora e cada dia mais distante
Em que a morte,tímida, não se anuncia.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Amor à uma estrela

Para T.B


Não, isso nunca vai ser possível! Como pode a realidade egoísta roubar ela dos meus sonhos?

Todos os dias, eternamente, ela estará sentada no alto daquela colina. As árvores parecem fezer fila para chamarem sua atenção, mas em vão.Seu olhar bailará com a contemplação desses meus que espreita daqui de baixo, nesse mangue. Não, nunca saias daí, fiques, embora nunca me vejas.Talvez seja até melhor!
ah, mas como eu contemplo esse olhar de estrela, distante e de imenso brilho! Como imagino meus olhos fechando-se num abraço de despedia! Como vejo seu olhar na lua cheia, iluminando a saudade de quem ficou mais uma vez na praia.
Mas não, não posso amá-la.Posso sim! mas ela não poderá me ver jamais!O tempo já corroe meus traços todos os dias, ao ponto de me sentir como um esboço do que foi um nada...Mas como não desejar acariciar esses cabelos, que explodem faiscantes à luz do sol?como não? embora estejas nos meus sonhos, sonhar com seu abraço?como não imaginar o amor eterno que lhe ofereceria espalhando o chão com as estrelas que eu buscaria para ela?!
Posso amá-la, mas nunca poderei tê-la...assim como à própria lua que agora me vê sentado a sonhar com ela.
Digo-te baixinho, para não escutares daí, onde sonhas em paz...
Minha pequena, juro amar-te como as estrelas.Um amor com luz intensa e eterna...mas sempre muito distante...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A cicatriz

Sou um homem triste...não! sou um homem sem sentimentos,nem alegre nem triste.Sou solitário,não por falta do companhias femininas, mas por opção de viver enclausurado num mundo tão conhecido e que falta tanto a se conhecer...esse mundo que se ilumina apenas quando algum rastro de cometa tange sua órbita: Eu.Também já vivi muito e, sinceramente, não vejo o porque de viver ilusões sabendo que as mesmas não passam de brisas efêmeras e as ilusões vividas em minha juventude me trouxeram para essa insuportável calma.
Sou um pouco alto e não costumo chamar atenção no que diz respeito à minha aparência a não ser minha testa que sta crescendo por causa da calvice.A única coisa que tenho de diferente é uma queimadura feita por um antigo amigo com um cigarro,que se encontra na parte interior do meu braço direito, mais exatamente entre o bíceps e o tríceps.
Hoje acordei no horário que acordo todos os dias desde que me entendo por vivo.Tomei o café matinal, acendi um dos meus cachimbo com o tabaco irlandes ,que sempre foi minha referência desde que o degustei pela primeira vez, e li meu jornal preferido:Le Monde,assim como faço todos os dias nos últimos anos.
Entre a fumaça do tabaco que fumava e algum trago de Gin, resolvi escrever sobre uma lembrança que me assolou a noite inteira, para ver se ela, finalmente, deixa minha cabeça.
Eu Estava em uma outra cidade bebendo com alguns velhos amigos e pessoas que não conhecia...mas isso não quer dizer que essas duas classificações não possam pertencer à uma única pessoa,mas lembro-me que faltou cigarros e então me dispus a ir compra-los numa tabacaria próxima de onde estávamos.No meio do caminho, numa praça bem arborizada,deparei-me com um homem que fumava cachimbo sentado numa mesa que ele mesmo, posteriormente me contaria, havia construído para ficar ali vendo as pessoas passarem enquanto fumava.
Fiquei surpreso por, naquele lugar onde eu jamais pensaria que vendesse tabaco, encontraria alguém fumando cachimbo.Resolvi ir lá perguntar onde vendia aquele fumo naquela cidade.
O homem tinha o olhar perdido entre os transeuntes, esboçava um sorriso jovial, como quem algum cabelo feminino tivesse trazido de volta alguma lembrança boa. Aproximei-me dele e vi que o tabaco que ele estava fumando também era o meu preferido.
Com licença,falei.Pois não,Queria saber onde tu compraste este tabaco que fumas agora,Ah,sim!dizer-te-ei,mas antes que eu te responda,podes me responder uma pergunta,Perguntou o homem,Balancei a cabeça em sinal de positivo,então ele prosseguiu,Poderias me dizer o que é o amor,A pergunta soou como um terremoto totalmente inesperado sobre minha espinha.Dei de ombros, e ele, cordialmente, pediu para que eu me sentasse.Assim o fiz.Aceita uma dose de Gin,me perguntou enquanto acenava para o garçom de um bar um pouco distante e exclamou, Por favor, uma outra dose.Quando eu já me encontrava sentado, ele repetiu a pergunta,O que é o amor.Tentei explicar ,mas as palavras fugiam de minha boca.Quando consegui articular as palavras,disse que o amor é a ilusão mais aterradora que existe e que é algo que não vale à pena ser vivido.Ele fez uma cara de espanto e perguntou-me se eu já tiha amado alguma vez. Respondi que , quando a paixão estava sendo vivida eu acreditava estar amando, mas que depois de o tempo reduzir a pó todas as carícias, vejo que não, não nunca amei, e , se eu já amei, me arrependo.O homem baixou a cabeça e fez um movimento de reprovação.Isso me irritou.Na verdade, o próprio semblante e o sorriso daquele homem me irritavam.Ele parecia feliz e eu me irritei.No auge da minha irritação, pensei que ele não sabia nada da vida e que tinha que quebrar muito a cara para entender o que eu, com minha experiência, sei.A vida fez muitas desgraças com você e eu sinto muito,Falou essas palavras ainda olhando para baixo.Perguntou, ainda olhando para baixo se eu quereria experimentar um amor de verdade, ainda enfurecido com aquelas perguntas, respondi que não posso viver algo que, de fato, não existe e que é que nem querer tocar nas mãos de um deus que vive na cabeça das pessoas.
Ele levantou a cabeça e pude ver uma lágrima caindo de seu rosto enquanto dizia que eu era um velho estúpido.Não estava mais suportando aquela conversa, ma algo me impedia de sair, como eu sempre faço quando alguém não me agrada.
Eu tenho certeza de que vou encontrar um amor pro resto da minha vida e eu só quero que ela esteja no meu leito de morte para eu saber que ali tem uma mulher que eu amei,amo e talvez irei amar para sempre,Disse ele olhando para mim e deixando cair uma lágrima no copo ainda pela metade de gin.Seu semblante misturava uma alegria desesperada, e uma esperança realcançada, então continuou,Eu já conheci mulheres, mas cada uma das que eu conhecia, não durava muito tempo nossa relação e , a cada vez que um relacionamento meu terminava, via a esperança de encontrar uma mulher ainda melhor, mas sempre carregando o que de positivo ela tinha me deixado.É triste ver que já não tens mais a esperança em teu coração, que agora renegas a sua fragilidade e tentas viver numa paz que angustia qualquer marinheiro.pois eu quero um mar revolto, ondas que me assolam o casco o meu barco e ondas altas que me levem para perto de Deus. Ouvindo tais palavras, fiquei enfurecido e me levantei,mas ele continuou,Ainda vais encontrar teu amor,por que vais lembrar dessa nossa conversa e, assim , uma flor brotará em teu tão velho e tão desiludido coração. Agora podes ir,Concluiu o homem.
Numa mistura de raiva por ter pedido tempo com tão jovem e esperançoso espírito,saí sem olhar para trás, não perguntei sequer sue nome.
Mas algo me chamou a atenção.Quando eu me levantei para sair, ele se abaixou para pegar em sua bolsa algum dinheiro.Nesse momento,meus olhos viram o que eu talvez tenha feito com que eu perdesse o sono essa noite.Mais ou menos entre o bíceps e o tríceps, havia uma marca que parecia ser de queimadura provocada por cigarro.
Esse encontrou me assolou por muitos dias e nunca mais voltei àquela cidade e também nunca mais vi tal homem to espirituoso,queria continuar a descrever tão encontro, mas acredito que não tenho mais tempo,meus amigos estão para chegar, pois hoje é meu aniversário de vinte e um anos.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Aos que deixei.

Hoje, ao contrário de ontem, o mar se tornou revolto no cair da tarde. Sentei-me na proa e o lampião que dança ao sabor das ondas, me ilumina ao escrever essa carta dentro dessa noite sem estrelas. Como todos os dias, penso nos que deixei nas mais diversas ilhas que pude contemplar.
Hoje, inundado pelo brilho dessa centelha oscilante e com uma saudosa alegria, dedico essa carta aos que deixei e levei pedaços, sejam amores, pedras ou lágrimas.

À vocês, que me acolheram e que, como sempre, fiz do anoitecer minha partida silenciosa.

Não pensem que fui ingrato ao partir na calada da noite, mas as despedidas nunca foram minha forma de partir.Não digo adeus porque , talvez, voltemos a nos encontrar em algum amanhecer noturno.
Não, não fuji ou fujo das ilhas mais belas. Não, não tento mudar o mar que navego, o contemplo. Se hoje, vivo envolto em memórias nesse mar de solidão, foi uma escolha minha. Desculpem-me pela pressa de nossas conversas e aquele gosto de despedida que sempre saíram de minha boca.Preciso navegar...e ,nesse mar, não procuro amores eternos ou pedras precisoas, procuro a mim mesmo. Desculpem-me o egoísmo, mas nasci na solidão e nela me vejo num certo equilibrio melancólico.
Mas não encarem essa melancolia como um defeito ou algo prejudicial.Não sou feliz, mas estou longe de ser alguém triste,apenas vivo onde algumas pessoas evitam ter conhecimento: o mar da própria solidão.
Escolhi navegar pela escuridão recolhendo estrelas por onde passo para iluminar minhas noites sem luas e sem estrelas. Fiz uma escolha,assim como fizeram os que escolheram uma ilha qualquer como descanso eterno e nao me arrependo. Nunca conseguiria viver em terra, logo morreria. Prefiro a eternidade dessas ondas que me levam para o encontro com furacões, mas também me dão crepusculos que nenhum de vocês, aí nas ilhas que deixei, poderiam imaginar tamanha beleza. Repito: fiz uma escolha, preferi navegar sozinho até o último dia, deslizando pelos mares mais coloridos à ter que viver em uma ilha que, em alguns meses, a conheceria por completo e ,depois de conhecê-la , sentar-me-ia nas pedras para ver os barcos viajantes cortando o horizonte sob o mesmos crepúsculos, repetidamente, pelo fim da vida curta que a terra provoca (acredito que quem vive em terra pára no tempo e a tão buscada paz se resume a um dia repetido até o fim.No mar, garanto-lhes que sinto a vida batendo contra o casco da nau todos os dias de uma forma diferente. "ma vie est le mére")
Nunca,peço-lhes, pensem que eu esqueci de vocês, só que eu escolhi o infinito e furioso mar à ter que resumir minha vida à um dia repetindo em circulos.

No mais, agradeço os presentes e sorrisos que me deram, os levarei sempre comigo e, um dia , quando o doce naufrágio fizer de meu nome para "saudade", os devolverei...As ondas os levarão de volta pra vocês.

Eu fiz minha escolha.

Obrigado pela cores do amanhecer e as estrelas das noites

De algum lugar dentro de mim,

Balthazar Sete-Sóis

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Memórias da ilha das sete cores

Faz vários dias que o mar está calmo e sol desponta querendo me fazer sorrir, como se seus raios arqueassem meus lábios num sorriso lunar. O vento que soprou trouxe consigo um cheiro que pintou de tormenta o horizonte no amanhecer.
esse cheiro me fez lembrar daquela linda ilha que outrora visitei, mas, por mostrar tantas belezas para meus olhos tão cinzentos, tiveque abandonar.
Nela eu a conheci. Prefiro chamar "ela" porque não interessa, nesse infinito mar, que alguém saiba de quem se trata, já que "ela" representa uma ilha, um sonho, uma saudade sem razão de ser.
Seus montes eram verdes, suas águas cristalinas e o vento soprava calmamente, como seu um deus jogasse seu manto para protegê-la e , penso eu, de fato era o que acontecia..um deus a protegia de todos os males desses mares..talvez até mesmo de mim.
Ancorei na costa leste, onde as pedras eram floridas e a áua transparente. confesso que pensei em nunca mais voltar pro mar e seus mistérios mas , como todo velho marinheiro, hesitei diante de tanta beleza.
Eu sempre me perguntava se aquela ilha existia ou se era mais uma visão como tantas outras que me apareceram nessa vida...nesse barco de tantas velas, de casco contruído com o que sobrou de tudo que já não é.
Resolvi não sair do barco, apenas circulá-la, apreciar sua passagem e as cores dos seus cheiros. Mas como não entrar na ilha? como ir embora sem saber se aquele seria meu último porto? resolvi mergulhar próximo ao barco, onde seria mais seguro. Meu barco é tudo que de mais precioso tenho, apesar e sua cinzenta cor e de suas velas tão tristes. Mergulhei e, dentro daquele lençol vítreo, pude ver os peixes coloridos rodeando aquela ilha como se a protegessem do mar, de mim ou de todos que não viessem para ficar. diante de tantas cores, acreditei mesmo estar sonhando, resolvi olhar para o barco e vi algo inesperado. Aquele barco que sempre me carregou por tantas ilhas, me salvou de tantos furacões, estava sereno. O sol refletia em seu casco e as velas estavam suavemente baixas como se, enfim, tivessem encontrado o descanso merecido por tantas tempestades, me pareceu, pela primeira vez, que aquele barco sedento pelos mares escuros estava em paz e disposto a nunca mais sair.
Peguei uma pedra que o mar , há milênios, tentou dar, empurrando-a com as ondas. Voltei a superfície e fiquei surpreso quando vi que o meu barco se tornara cinza novamente (nunca soube a verdade) . Escutei o rengido do seu timor e suas velas se abriram como as asas de um albatroz e, quando percebi, a ilha já era um pequeno ponto de luz no horizonte escuro...cada vez menor.
Esse cheiro que senti hoje pela manhã me trouxe a isão dessa ilha iluminada e protegida por algum deus que, da mesma forma como a protege das tempestades do mar, protege ela de mim...soprando contra as velas do meu cinzento barco para longe...longe...até onde eu não possa mais ver suas radiações tão confortante. Não sei o que aconteceu de fato, mas penso todos os dias onde é meu lugar, se voltarei um dia e aquele deus me deixará aportar ( juro como desmancharia meu barco e construiria uma linda casinha branca no alto do mais lindo monte com suas madeiras tão cheias de mim) ou se meu destino é sempre vagar sem nunca encontrar um porto onde eu possa descansar em paz. Desculpem-me, mas esqueci de dizer que meu barco é grande demais para aportar...talvez meu destino seja navegar por mares profundos até que um dia um furacão tenha piedade de mim e me leve para junto dos meus amigos afogados.Só eles sabem como é a vida de um marinheiro onda a saudade é o timoneiro.
No mais, levo aquela pera que seria o rpesente do mar comigo. Quem sabe o mar, insatisfeito com o roubo do seu presente, leve meu barco de volta. Se não, essa pedra sempre vai me lembrar, com suas, cores aquela felicidade que nunca existiu e eu sentirei saudades, mas também saberei que um dia, vi o que seria a paz de alguém que vaga e meu barco solitário barco refletiria como um diamante, as sete cores da paz.

domingo, 14 de setembro de 2008

Carta ao mar II

Para T.B



Hoje a manhã se levantou cinzenta e o vento leste soprava suavemente a vela. como de costume, me sentei na proa do barco para procurar, no horizonte, algo que me guie ...faz três meses que não avisto ninguém -nem ilhas nem barcos perdidos- nesse mar infinito.Mas a manhã estava mais cinzenta do que o normal. há tempos que não acordava com essa náusea,como se algo me puxasse para dentro de mim cada vez que eu respirasse. Sei que foi o sonho que tive ontem, por isso que escrevo mais uma carta para jogar ao mar, na tentativa que ela carregue também essa angustia que a lua pinta com as cores da saudade.
Para aquela que me visita todos os dias, mas que nunca vi, que aparece semrpe tão linda nos meus sonhos de quem foi e nunca voltou. Mais uma vez, te vi em meus sonhos.
Estávamos num lugar que eu conheço, não sei se conheço por vida ou se o vejo dentre os meus desejos. O crepúsculo já puxava o véu da noite por entre as montanhas, e um homem que carregava os séculos na cabeça - grande amigo de outrora, quando eu ainda vivia em terra, mas que ,também, nunca vi- nos apresentava mais uma vez dentre as mil que te vi e que te verei...Lembro-me que bebíamos vinho ao som de violinos alegres.Estavas sentada de frente para mim com suas pernas em forma de "x" e com o cabelo levemente caído sobre os ombros, deixando uma sobrancelha escondida pelos cabelos de cor de paixão que tinhas .Rias e , de quando em vez, teus olhos procuravam, timidamente, os meus que te envolviam como o calor daquela noite de outono.Levantaste a cabeça, minha querida, e perguntaste se eu a tinha te visto passear pelo campo durante a manhã que o sol pintava teus cabelos com o vento.Respondi que sim, como pudera eu não procurar-te com meus olhos? Então, envolvida naquela alegria infantil, abrisse um sorriso ,ajeitando o cabelo que já caiam nos teus pequenos olhos denovo, que jamais pensei ver, seguido do meu sorriso que jamais pensei poder dar. Mas o sonhos acabou e voltei para o vento frio desse mar.
Então, minha querida, escrevo-te essa carta.A deixarei aqui ,nessa garrafa, envolvida pelas ondas...Talvez nunca te veja, talvez nem vives de verdade, ou, se vive, está nesse jardim que visitei em sonhos, longe desse mar solitário...longe desse barco, dessas ondas e dessa saudade. Mas, se vives e também navegas por aqui, guia teu barco para aquela lua, já que, estranhamente, ela esboça um sorriso todas as noites. Um sorriso que vi em tua boca.
Estarei, como estarás, embaixo dessa lua que ri...procurando os mesmos sorrisos esquecidos mas tão desejados.

Com a ansiedade fria do amanhecer,

Balthazar Sete-sóis

domingo, 7 de setembro de 2008

Carta ao mar I

Não sei pra quem escrevo essa carta que repousará dentre as ondas que me trouxeram para esse lugar sem nome.Não sei se alguém aflito a encontrará, ou se, simplesmente, será esquecida nas pedras de uma ilha de ninuém.Na verdade, escrevo para deixar no mar dos desconhecidos, o testemunho de um coração que bate no horizonte, talvez longe demais de ti, mas vive.
Tú que a encontraste, não levarás consigo nenhuma mensagem de amor ou ódio, verás somente o que alguém chamou de saudade, mas que hoje navega no esquecimento.Sem rumos ou bandeiras, nessas ondas que o vento atiça, um barco já deslizou em busca de um raio de sol ou uma estrela que despencara do céu, mas que talvez nunca tenha sido vivo..um barco de brisa branca e serena pela noite gélida dos que vão.
Sem vida, vagando pela solidão das milhares de luzes no horizonte, sejam luzes de outras naus à deriva ou sejam as ilusões de terra ao horizonte, mas vagando em busca do que já se passou, ou das saudades que ainda virão.
Á ti, que estais descobrindo os sonhos que as letras desenharam. Á ti, que a solidão já bateu na porta pedindo para entrar, peço-te que a deixe entrar enquanto há vida nos teus ares, pois quando se navega nesse mar de nostalgia, nem a própria solidão está ao lado para chorarmos em seu ombro quando um crepúsculo se anuncia, trazendo ,consigo, os cheiros da casa que um dia deixamos para correr atrás daquela estrela que morreu...

Aceitai a solidão que pinta os luares e perfuma o que passou e nunca deixe que te ceguem as estrelas do infinito.Um dia, as estrelas se apagarão e não te restará nem mesmo a solidão nesses mares desertos, sem a lua que desenha com lápis de luz no mar, sem a fronteira do que é e o que já passou.

sábado, 30 de agosto de 2008

Sobre o amor.

sinceramente, acredito que não haja nada mais majestoso e hilério do que o amor. O amor não, os que amam, os que vêem um céu diferente todos os dias, os que escutam com deleite a voz das rosas chamando para serem sacrificadas e presenteadas à alguém bem amado.Isso é majestoso.
De quando em vez me vejo também rindo sem saber o porque de tanta credulidade em algo que é tão sólido quanto um pensamento. Não sei! estou escrevendo só por ecrever, por talvez ainda por saber como um amante atua no palco e como um espectador, entediado, aplaude silenciosamente o espetáculo. Acho que escrevo como um náufrago que vê o seu último amor dentro de uma garrafa e a atira ao mar por saber que um mar em tempestade, ainda é o lugar mais seguro para o amor do que dentro de si.
Isso é um fluxo de consiência, pensamentos e sentimentos, não me peçam nexos ou sentidos. Estou falando de amor, desse amor que geralmente falamos para a lua, para uma garrafa de bebida, ou para aquele olhar piedoso de um cão. Esse amor que não vejo mais, mas sua brisa ainda entra pela janela numa noite de "olhar preso no teto buscando uma chama".Consegues entender?
Perguntei se compreendes por ter a certeza que estamos nos comunicando,na verdade, não me importa se vais entender ou não, não escrevo para você. Escrevo, creio eu, para poder ler e procurar um sentido nas palavras que eu mesmo desenho. "o diabo está nos mínimos detalhes" e é por isso que o caço, para, enfim, poder conhecer o dom de um deus louco, ou um demônio de compaixões, mas não quero continuar nessa ilha perdida e sem ventos para levantar as velas.
Não, não falei isso que estais pensando, tentei falar do amor.Tentei me esquecer, ou esquivar, da realidade de que , para quem não ama, o amor é mudo.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Saudade

Sinto saudade daquela saudade
Que me fazia olhar para a lua
Pensando ver a pessoa amada.

Sinto saudade daquela saudade
Que me fazia gritar pela rua
Que já amava e que nada podia fazer

Sinto saudade daquela saudade
Que me fazia imaginar toda ela toda nua
Com sua cara fingindo me querer.

Sinto saudade daquela saudade
Que me fazia acreditar ser uma
A mulher que daria razão ao meu viver.

Mas, de todas, a que sinto mais saudade
É saudade daquela nostálgica saudade:
Saudade de sentir saudade.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Sobre flores e estrelas

Para Pâmella

e a vida se desfez
as folhas que caem,
carregam consigo as nuvens
com seus coelhos e algodões celestiais.
ela caminha pela estrada branca carregando o véu da saudade,
não deixa rastros pela vida,
e seus passo se perdem pelo caminho.
Os amores são deixados nas rosas,
o sol se põe vagarosamente em sua frente.
uma noite sem estrelas e o vento que sopra não levanta as velas na praia,
caminha por esta estrada,
vai de de encontro a escuridão,
mas não esqueça da solidão do espaço
nem da imortalidade das estrelas...

princesa da saudade

Para a rubra estrela do mar.

Para aquela, que meus braços eternos beijaram tão pouco,
que meus sonhos procuraram tão em vão,
Que a saudade foi mais passageira em seu olhar.

Sem respeitar o tempo,
sua dependência pela imortalidade
e seu cheiro que me abrem em pedaços.
sua lembrança me mantém acordado depois do espasmo da nostalgia.

sem querer, ainda penso em ti,
nas rosas que acaricias,no vento que esqueces
e na agua que te banha com movimento de despedida.

penso cada vez mais em ti,
naquilo que me faz falta dentre tuas mãos,
do que me preenche enquanto dormes,
dos sonhos que jamais poderei roubar.

No mais, teu fatasma me assola o quarto,
me rouba a a insônia mas, dentre esses furtos oníricos,
o que mais sinto falta, são os sonhos que te vejo,
sentada, com o olhar perdido no horizonte,
no mar onde nunca navegarei...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A encantadora de lagos

Á Bárbara Müller

Então ela caminha cuidadosamente,
o verde da paisagem desenha o vento em seu rosto,
e seus cabelo são raios roubados do sol.

Talvez tenha medo de cair,chorar,sorrir,
seus passos não voltam,sua mão acaricia o vento
e o barco esquecido chora a distancia de suas mãos.

Ao caminhar pela beira daquele lago encantado,
As folhas das copas se esticam para que possam ser tocadas
umas sobre as outras, as ondas a seguem.

seus olhos de sonhos dourados percorrem o horizonte,
sem passado nem futuro, só vento e flores,
apenas a lembrança daquele céu azul que alguém pintou de verde,

vai, menina de cabelos de ouro,
que já encantaste esse lago,
procura agora aquela cachoeira de pérolas
dos teus sonhos de menina-mulher.

Deixo

Deixo, nessa noite iluminada,
Dentro de um abraço que fala de saudade,
O que deixarei quando me chamarem de sonho.
Deixo aquele abraços,
Mas já sem meus braços.
Deixo aquele beijo,
Mas já sem aquele desejo.
Deixo aquele luar,
Que chora por um olhar.
Deixo aquela amada,
Que chora num canto tão cansada.
Deixo para aqueles amigos,
Aqueles segredos de ouvido.
Deixo aquela cidade calada,
Que escuta hoje só o som das minhas passadas.
No fim,
Deixo para a vida,
Aquela minha vida
Que continuará sem mim...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

reflexão no alvorecer das flores

Vendo a luz que desliza pela janela,
vendo o "não ser" diante dos olhos,
olhando essa luz que me procura por entre os quadros,
nessa angustia de "ser" e "nem ser".

E essa luz que entra?
nem é o alvorecer das flores,
nem crepúsculo chorão,
são só passos do relógio
que me procuram com seus óculos pela escuridão.

E esse coração que bate?
nem é alegria de criança
nem angustia de despededida
é o bater por não saber parar,
para não ser morte o que chamam de vida.

E esse olhar que cai no horizonte de pedras?
nem é a procura do amor,
nem é um refúgio para o tempo,
é o olhar inundado de um vermelho esquecimento.

E essa lágrima que caí?
nem é a alegria do barco que volta,
nem é a carta do filho soldado morto na guerra,
é a solidão de quem vai com o vazio de quem fica.

E esse céu se tingindo de azul?
Nem é o baile da revoada,
nem o olhar do afogado,
é só o deserto de um sentimento que o tempo parou.

E o que é essa vida?
nem é a vontade de chorar da viúva raquítica,
nem é a imortalidade das cartas de amor,
é aquela viagem que já começa com gosto de despedida...

O lar dos deuses

O LAR DOS DEUSES



O branco, nada mais, assim como o início e o fim dos tempos. A presença forte da luz trazida pelo vazio ou a ausência das trevas densas da consciência.
Ouve-se passos irregulares, tais como as batidas de um coração inundado de um amor furioso, misturados com a angústia solitária de quem ama perdidamente. Abstraindo as paredes de concreto e sonhos, deparamo-nos com um ser hominídeo; talvez um homem ou uma consciência fragilizada pela falta da monótona razão.
Anda em extremos de ansiedade e cansaço mas como quem procura nas paredes repletas de vazio e sonhos o que, quiçá só encontre quando fechar os olhos e parar de procurar no vazio de sua loucura um sentido que nunca encontrará posto que nunca existiu desde que o primeiro homem acendeu a primeira faísca.
Abruptamente ouve-se e vê-se o silêncio. Isto mesmo. O silêncio foi visto, não escutado. Este resquício de nada que ora corria como quem queria derrubar de sua cabeça seus sonhos, ora aproveitava a leve brisa que também os sonhos lhes trazia.
Estático, como quem pára de sonhar, mira o copo (única presença de vida em seu quarto preenchido pelo alvo em todos os cantos e móveis mortos construídos por homens menos vivos do que o que agora olha para o copo com água).
Isso é facto! -Diz o morador do quarto branco de fronte ao copo com água-. Facto, facto, facto. Criarei hoje um mundo. Mas que terá nesse mundo? Pergunta-se. Terá pudim de chocolate, isso mesmo, e sorvete de chocolate também. Terá montanhas de sorvete de chocolate. Preciso também fazer mares. Mares de água doce, doce como açúcar. Não haverá água salgada.
Não. Não haverá água. Lembrei que um amigo meu morreu afogado. Isso mesmo. Meu primeiro amigo e, talvez o único, morreu afogado. Estávamos voando juntos e voamos tão alto que ele se afogou no mar do céu, pois o céu é azul porque é o mar; todos sabem disso.
Haverá muita luz, isso sim. Porque quando escurece os monstrinhos que ficam embaixo dos nossos cabelos saem para povoar o mundo. Por isso que rasparam meus cabelos. É verdade! A mulher do toc-toc me falou, e ela sempre fala coisas terríveis sobre os monstros e fantasmas, mas diz também que aqui é o melhor lugar do mundo inteiro para mim; e você já deve ter escutado isso.
Sim, voltemos.
No meu mundo as pessoas vão voar, mas não como voam as pessoas dos outros mundos, elas voarão com as pernas. Porque as asas já são dos anjos. A mulher do toc-toc me fala que, quando fecho os olhos, os anjos, que são homens que moram aqui no teto, vêm me visitar. Ela também traz presentes que eles trazem pra mim. Sempre que escuto o toc-toc é porque vem um presente para mim, é verdade. E eu tenho que aceitar, se não eles ficarão tristes comigo. Ela disse, e ela sempre fala a verdade.
Que barulhos são esses? Eles vêm do outro lado dessas paredes. Mas a mulher do toc-toc diz que pessoas como eu, ela sempre me chama de especial, têm que ficar aqui.
Outra vez estático, o morador do quarto branco levanta o olhar do copo e olha para a parede branca. Dever-se-ia pensar que fita uma paisagem.
Que barulhos são esses? Pergunta-se. Creio conhecer, algo em mim já sentiu esses sonhos.
Ainda mirando fixamente a parede branca, escuta pessoas gritando, outras chorando e, repentinamente, vê na parede branca à sua frente, um casal jantando.
O homem aumenta o tom da voz e corre em direção ao porta talheres. Dentro de uma gaveta encontra um objeto que brilha a meia luz e volta à mesa. Ainda de pé, segurando o objeto resplandecente, o pressiona contra o próprio pulso. O rubro se mistura ao vinho derramado sobre a mesa, que outrora fora romântica. A mulher está debruçada sobre a mesa. A cena também é rubra, mas não por se tratar de uma cena de amor.
Espere, o que estou fazendo aqui? Pergunta-se estupefado.
Olha ao seu redor. Estou preso! Estou preso! Afirma deixando cair uma lágrima salgada sobre os antigos sonhos doces.
Sua boca treme, então ele abaixa a cabeça e levanta a manga do casaco, branco como o quarto, como o próprio vazio. Espantado e em lágrimas, em seus pulsos vê duas cicatrizes feitas por algum objeto cortante e duro contra uma pele frágil e cheia da loucura que o amor traz.
Escuta um barulho parecido com um toc-toc e corre como se pudesse fugir; dentro daquelas paredes brancas tenta se esconder.
A porta abre e uma mulher com uma bandeja entra dizendo: Cá está o presente dos anjos, se você não tomar, eles ficarão tristes. Então, entra no lar dos deuses de instantes atrás, mas ainda louco como qualquer deus.
Encolhido no canto, chorando e tremendo, aceita tal presente que a mulher lhe entrega junto com o confidente de instantes, o copo com água.
Para receber o presente dos anjos é preciso se Deus.
Após tomar o comprimido, a mulher dá as costas e sai. Ele tremendo e chorando permanece encolhido.
Depois de alguns minutos adormecido no lar dos deuses, acorda e olha para o copo novamente cheio.
Então, nessa casa de corredores e quartos brancos, escuta-se, de dentro de um quarto alguém gritar: Facto, facto, isto é um facto!

Diário de um mariheiro de nuvens

Diário de um marinheiro de nuvens

hoje o mar está revolto e preciso me concentrar para não me perder nem naufragar.
A minha vida está tempestuosa, mas aprendi, com o tempo, a saber sentir saudades.
A saudade só chega em noites calmas de verão, quando a lua ilumina nossos rostos no espelho
e hoje foi dia de lua...mas sei que amanhã vou esquecer da saudade
a minha vida está cinza como uma tempestade, mas aprendi, com o tempo, a saber sentir saudades
o simples fato de saber que um segundo não volta mais, ver a vida deslizando por baixo de um barco que nunca se pode dar a volta
mas eu não sou passivo...
só não tento controlar o mar por que o mar não tem controle..
mas aproveito para olhar longe, chegando perto do céu, quando dá uma onda muito alta..
e aproveito para ficar mais próximo dos peixes e das almas dos náufragos quando um redemoinho me puxa para baixo